a nossa vida poderia ser comparada a um armário. tudo o que o armário guarda, são todas as pessoas que passam pela nossa vida. como é natural, ao longo do tempo vão haver peças de roupa que não vão mais ter utilidade. por diversos motivos: ora porque já não estão adequados a época ou pelo simples facto de já não servir. inevitavelmente, vamos preenchendo o nosso armário com novos modelos, sem nunca deixar para trás as "velhas" vestimentas. estas, apenas permanecem "esquecidas", na última porta do nosso armário. até que chega o dia em que nos lembramos que aquela porta permanece ali, à espera que seja aberta, para nos levar numa longa viagem pela nostalgia. assim, tal como acontece no nosso armário, também acontece nas nossas vidas. todos os dias, ao me deitar, olho para aquela porta e sou confrontada com a realidade de que, sem darmos conta, perdemos contacto com várias pessoas ao longo do tempo. pessoas que por algum motivo foram movidas para a última porta de um rectângulo de madeira embutido numa parede. com isto, dou comigo a pensar nas recordações que terei se tiver a coragem para abrir a porta. mas, mais uma vez, deixarei que essas recordações invadam o meu quarto num outro dia.